quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Metade

 

Metade

E que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca,
Porque metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza.
Que a mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,
E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais...
Porque metade de mim é abrigo mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor,
E a outra metade também.


Metade - Oswaldo Montenegro

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.

Assim que possivel estarei dando retorno, se for o caso.

Abraço.

Quem segue o blog: